O fantástico negócio dos plásticos, criado a partir dos anos 50 do século passado, continua ainda hoje a fazer milionários por todo o mundo, apesar de ser o maior destruidor do ecossistema do Planeta Terra e da própria vida humana. Estima-se que, atualmente, mais de 150 milhões de toneladas de plástico estejam a poluir os oceanos. De acordo com um estudo da Fundação Ellen MacArthur, em parceira com a consultoria McKinsey, publicado em 2014, a proporção de toneladas de lixo de plástico para peixe era de 1 para 5. Se o presente já é sombrio o futuro ameaça torna-se num verdadeiro pesadelo: as previsões apontam para que, caso se mantenha a tendência, em 2025 a proporção será de 1 para 3 e em 2050 já haverá mesmo mais plásticos nos mares do que peixe.
Agora a problemática não é só no mar, todos nós temos consciência desta poluição também em terra, mas mesmo assim continuamos a não saber viver sem o tradicional plástico que nos persegue no nosso dia-a-dia, como se fosse uma parte integrante do nosso organismo. A verdade é que já o é. Especialistas de diversos países consideram que 90% da população mundial, incluindo recém-nascidos, têm Bisfenol A (conhecido por BPA) no seu organismo.
Mas o que é o BPA? Foi descoberto pelo russo A.P. Dianin, em 1891, é uma substância química que resulta de um preparado da condensação da acetona com dois equivalentes de fenol. É utilizado na fabricação de plásticos para fazer biberões, garrafas e garrafões de água, revestimento de latas de conservas, copos, pratos e talheres, películas aderentes usadas na cozinha, embalagens para armazenar comida, utensílios para o lar, equipamentos desportivos, dispositivos dentários, lentes para óculos, brinquedos, entre muitos outros produtos.
Desde 1970 que há suspeitas dos malefícios desta substância para o ser humano e sabemos hoje que pode provocar diversos cancros (mama, ovários, útero, pulmões, próstata, fígado, cérebro, sistema nervoso, entre outros), infertilidade, abortos espontâneos, puberdade precoce nas meninas, deformação do pénis nos meninos, hiperatividade, défice de atenção, autismo, parkinson, stresses negativos no coração ou diabetes, entre muitos outros.
Os especialistas consideram o BPA uma molécula muito instável que facilmente pode passar dos plásticos ou das latas de conserva [a parte interior de muitas latas têm esta componente], por exemplo, para os alimentos, apenas com mudanças de temperatura ou danos na embalagem. Apesar dos plásticos com BPA terem sido vendidos durante mais de 50 anos um pouco por todo mundo, países como o Canadá, Costa Rica ou alguns estados dos EUA, há muito que o proibiram.
No entanto, a verdade é que existem mais de 80 mil variedades de plásticos registados com patentes que protegem a sua composição química, parcial ou total, ao abrigo do segredo industrial. Os aditivos químicos usados para criarem rigidez, elasticidade, resistência ou cor, muitas vezes são de difícil deteção em laboratório, alertam os especialistas. Um desses exemplos são os biberões de plástico com BPA que desde 2007 existem alertas para os malefícios, mas a União Europeia só em 2011 decidiu proibir a sua produção e comercialização. “Esta é uma boa notícia para os países europeus, que podem ter a certeza que a partir de meados de 2011 os biberões de plástico deixam de conter bisfenol A”, congratulou-se, na altura, o comissário europeu para os Assuntos do Consumidor e da Saúde, John Dalli. Mas esta decisão é uma pequena gota no oceano, uma vez que o consumidor continua a ser aliciado diariamente por plásticos que contêm BPA ou equivalentes.
Como fugir ao BPA?
A melhor solução é evitar comidas e bebidas embaladas em plásticos, usar embalagens de vidro ou aço/inox para guardar alimentos, não usar plásticos no micro-ondas e, sobretudo, verificar no fundo do recipiente de plástico qual o número de reciclagem que vem marcado dentro de um triângulo. Os números 1 (PET), 2 (PEAT ou HDPE), 4 (PEBD ou LDPE), 5 (PP) significa que existe alguma segurança, pois não contêm BPA ou Ftalatos. Se estiver marcado os números 3 (PVC ou V), ou 6 (PS) e 7 (PC e outros), é melhor não usar para os alimentos ou mesmo na cozinha, significa que provavelmente contém BPA (são normalmente plásticos mais duros e resistentes).
A incerteza continua, no entanto, bem viva apesar de muitos países já terem proibido o BPA, uma vez que a indústria adaptou-se às novas imposições e em vez de BPA utiliza agora novos aditivos como bisfenol S ou o bisfenol F, que legalmente são autorizados, mas cujos os efeitos globais são ainda desconhecidos. A suspeição dos investigadores continua no ar porque os seus efeitos poderão ser iguais ou piores do que o BPA. E muitos outros aditivos são ainda usados, mas totalmente desconhecidos devido ao segredo industrial que legalmente é aceite, apesar do risco potencial que existe para os consumidores.
Europa proíbe plásticos descartáveis a partir de 2021
A poluição ambiental e seu o impacto no meio ambiente levou a que o Parlamento Europeu tenha aprovado, a 24 Outubro de 2018, uma resolução que obriga a que o Conselho da União Europeia, onde estão representados os governos nacionais, alcance um acordo sobre a legislação final para proibir a venda de produtos de plástico de utilização única a partir de 2021. Pratos, talheres, cotonetes, palhinhas, agitadores para bebidas, varas para balões, plásticos oxodegradável e recipientes para alimentos e bebidas de poliestireno expandido têm os dias contados.
Já em relação a outros produtos de plástico de utilização única, “os Estados-Membros devem tomar as medidas necessárias para obter uma redução ambiciosa e sustentada de pelo menos 25% até 2025”, dizem os eurodeputados no texto aprovado. Em causa estão, por exemplo, caixas para hambúrgueres, sanduíches e saladas, bem como recipientes para frutos, legumes, sobremesas ou gelados.
Os Estados-Membros terão ainda de assegurar a recolha seletiva e a subsequente reciclagem de pelo menos 90% das garrafas de plástico descartáveis até 2025, determinam ainda as novas regras aprovadas pelo Parlamento Europeu. Na mira de Estrasburgo estão igualmente os produtos do tabaco, como os filtros que contêm plástico, que os eurodeputados pretendem ver reduzidos em 50% até 2025 e em 80% até 2030.
Todos os anos entram nos oceanos 4,8 a 12,7 toneladas de plásticos, dos quais 49% são plásticos descartáveis (garrafas de plástico e tampas, beatas, cotonetes, pacotes, produtos de higiene pessoal, sacos de plástico, talheres, palhinhas, copos…) e 27% são plásticos dos equipamentos de pesca. Esta proposta insere-se no âmbito da estratégia europeia para os plásticos.
Além de afetar o ambiente e a saúde humana (estudos mostram que o nosso organismo contém até nove microplásticos diferentes (partículas de polipropileno (PP) e polietileno tereftalato (PET), entre outros), mas o lixo marinho de plástico é também prejudicial para atividades como o turismo, as pescas e o transporte marítimo.